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Entrevista a Sérgio Claudino, coordenador do projeto Nós Propomos!

Entrevista a Sérgio Claudino, coordenador do projeto Nós Propomos!

Sérgio Claudino é geógrafo, docente do IGOT-ULisboa e investigador do Centro de Estudos Geográficos, integrando o GI ZOE. É coordenador do Centro de Formação de Professores do IGOT-ULisboa e do Mestrado em Ensino de Geografia. Em 2011, fundou o projeto Nós Propomos! Cidadania e Inovação na Educação Geográfica, o qual coordena e dinamiza até hoje.

P1. O projeto “Nós Propomos! Cidadania e Inovação na Educação Geográfica”, que tem por finalidade promover uma efetiva cidadania territorial local, celebrou este ano a sua 11.ª edição, com um regresso ao formato presencial. Como surgiu a ideia e a oportunidade de implementar este projeto, que hoje em dia conta com a participação de muitos estudantes de várias regiões do país?

Perguntam-me com frequência, mas não me lembro exatamente quando tive a ideia de criar o Nós Propomos!, foi por setembro/outubro de 2010. Em 2001, surgiu o programa de Geografia A, com o Estudo de Caso, obrigatório, muito direcionado para o trabalho dos alunos sobre problemas locais – o que se concretizaria através do desenvolvimento de um olhar crítico, do trabalho de campo e da apresentação de propostas de resolução desses problemas. Era uma excelente oportunidade de inovação para a disciplina de Geografia. O programa foi implementado a partir de 2004/2005. Em maio de 2005, representei o CEG numa reunião do então GAVE (gabinete que elaborava os exames) e bati-me, sozinho e sem sucesso, para que o Estudo de Caso fosse, de alguma forma, avaliado no exame nacional. Sabia que se não viesse nos exames, seria desvalorizado nas escolas. Foi o que sucedeu. Há sempre honrosas e escassas exceções, mas nem as autoras do programa Geografia A implementaram o Estudo de Caso nas suas escolas. Criou-se uma barreira de silêncio nacional em torno do mesmo. Ele exige um trabalho diferente com os alunos… e não é avaliado no exame.

Com a criação do projeto “Nós Propomos! Cidadania e inovação na educação geográfica” tentei, no imediato, dinamizar a implementação do Estudo de Caso na disciplina de Geografia, no ensino secundário – onde tem uma grande implantação.  Pretendi criar uma rede de inovação, em que nós professores nos motivássemos reciprocamente, articulando o IGOT e as escolas. Pelo contacto próximo com estas, tenho a noção de que a inovação educativa se concretiza com atividades simples, metodologicamente concretizáveis – como sucede no Projeto Nós Propomos! Por outro lado, considero quase um escândalo que as escolas constituam os equipamentos mais qualificados de uma comunidade, reúnam muitos dos seus elementos melhor preparados, os professores, e sejam espaços de formação dos mais jovens da comunidade, mas estejam alheadas dos problemas da mesma comunidade – o que se tenta contrariar através do Projeto. Tenho uma visão reformista da educação, de evolução por pequenos passos, não por ruturas, como o insucesso de reformas curriculares do século XXI demonstra – e o Nós Propomos! é implementado num ano concreto (11.º ano), podendo alargar-se a outros ciclos, como está a suceder. Não pretende uma mudança radical de práticas, mas a introdução de novas práticas, que se difundam na escola. Atravessa o Projeto a ideia de cidadania – permito-me recordar que a minha família tem alguma tradição de participação pública, eu próprio fui (pequeno!) autarca durantes 16 anos – tenho, de resto, dificuldade em não associar diretamente a Geografia com a cidadania.

Mencionou na questão inicial a “cidadania territorial”, conceito de que terei alguma paternidade, que decorre do projeto Nós Propomos!, e que pode ser entendida como a participação comprometida e esclarecida na comunidade na resolução de problemas espaciais. Longe de esgotar as motivações do Nós Propomos!, quero lembrar que a sua criação está intimamente associada à criação do IGOT: este é um instituto de “Geografia e Ordenamento do Território” e é ao encontro deste desafio que, em 2010, tento criar um projeto que coloque os jovens a discutir a construção dos territórios que habitam. O projeto repousa sobre dois pilares, a participação pública no ordenamento do território e a inovação educativa em Geografia. Em 2010, tentei o financiamento do projeto pela DGOTDU (ordenamento do território) e pelo Ministério da Educação. O Ministério da Educação disse apoiar mas não financiar e a DGOTDU disse que, assim sendo, não financiaria o projeto. No ano seguinte, o Nós Propomos! arranca com o apoio dos dois núcleos do CEG a que eu pertencia, o NEST (ordenamento do território) e o HEGEC (ensino de Geografia), refletindo sempre a preocupação em vincular o Nós Propomos! aos referidos pilares.

O projeto Nós Propomos! foi adotado como o projeto educativo do Geoforo – Foro Iberoamericano de Educação, Geografia e Sociedade e tem uma assinalável expansão no país (mais de 17000 alunos e professores, desde 2011/12) e no espaço iberoamericano. No IGOT, é frequente vir um aluno, no final de uma aula, discretamente, dizer-me que participou no Projeto Nós Propomos! e, até, colaborar com o mesmo – muitos alunos do IGOT participam na Avaliação Intermédia, nos júris de concursos, na organização do Seminário Nacional.

Gostaria de sublinhar o seguinte: a maioria dos professores portugueses conhece o Projeto Nós Propomos!, sabe que discute problemas territoriais e aponta soluções para os mesmos. Hoje, nas escolas portuguesas, sem qualquer ligação formal ao Projeto Nós Propomos!, é cada vez mais frequente os professores de Geografia perguntarem aos alunos as medidas se devem tomar para resolver um problema (aliás, o mesmo também tem surgido em exames nacionais de Geografia do secundário). Tal era impensável há dez anos. Por isso, afirmo estar a ser construída uma nova cultura de cidadania geográfica nas salas de aula portuguesas, o que penso estar intimamente relacionado com a influência do Projeto Nós Propomos!

Uma última nota: penso que o sucesso do Projeto Nós Propomos!, ao desafiar os jovens a olharem criticamente para a sua comunidade e a apontarem soluções para os seus os problemas territoriais, significa que este constitui uma alternativa importante a uma educação geográfica tradicional.

P2. Em 2011/2012, dinamizou a Petição Pública Nacional “Por uma formação autónoma dos professores de Geografia e História. Por uma formação inicial de qualidade”, que levou à alteração da legislação nacional sobre o Mestrado em Ensino nas áreas de Geografia e História. Pode falar um pouco sobre esse processo e explicar o papel que teve para o que é hoje o ensino em Geografia e a formação de novos professores?

Em 2007, o Ministério da Educação determinou a criação do Mestrado em Ensino de História e Geografia. No ano anterior, na fase de discussão da legislação, a Associação Portuguesa de Geógrafos encabeçou uma reação nacional, de contestação à fusão da formação dos professores de Geografia e História; foi tornada pública uma carta subscrita também por todos os Departamentos de Geografia e pela Associação de Professores de Geografia. Mesmo assim, o Governo determinou esta fusão. É evidente o que se pretendia com esta integração: a desvalorização do ensino das Ciências Sociais, da Geografia e da História, mais em concreto, numa perspetiva neoliberal e economicista. Recordo que para ingressar naquele Mestrado bastava ter uma formação mínima em História ou em Geografia (50 ECTS), menos de um ano letivo, o que também significava uma diminuição da qualidade da formação inicial. Ao chegarem às escolas mais e mais professores de Geografia e História, estariam criadas as condições necessárias para que o Ministério da Educação decretasse, sem grande sobressalto, a integração das duas disciplinas (como já sucede no 2.º ciclo, com História e Geografia de Portugal). Foi um processo politicamente bem pensado pelo Governo.

Espantou-me a passividade que rodeou este ataque tanto à História como à Geografia, a partir de 2007. Nas escolas, não houve reação por parte dos grupos disciplinares de Geografia e História, as respetivas associações de professores pouco se agitaram, o mesmo se diga das universidades, que não tiveram presente, de resto, que a desvalorização do ensino de Geografia nos ensinos básico e secundário se iria repercutir muito negativamente na procura dos cursos universitários de Geografia (como sucede em Espanha, em que o ensino de Geografia é muito desvalorizado no secundário e em que vários cursos universitários da área têm encerrado, por falta de procura).

Assim, com o apoio da Associação de Professores de Geografia, da Associação de Professores de História, da Associação Portuguesa de Geógrafos e da Associação Insular de Geografia, que se juntou entretanto, em 23 de maio de 2011 (data de aniversário do meu pai!) foi lançada a Petição Pública Nacional, de que fui o primeiro subscritor. António Fernando Silva, nosso antigo aluno da Universidade de Lisboa, teve um papel incansável na organização (difícil!) da petição.

A petição pretendia a reposição da autonomização da formação inicial de professores de Geografia e de História. Devo dizer que alguns colegas me diziam, com razão, que seria muito difícil conseguir que o Governo alterasse a legislação nacional, como pretendíamos.

Fizemos o caminho mais difícil, pois se tivéssemos aberto a Petição a toda a população, como era legítimo, teríamos mais facilmente conseguido as 4000 assinaturas necessárias à discussão da Petição Pública na Assembleia da República. Por uma questão de autenticidade, a petição foi subscrita apenas por professores de Geografia e de História, de todos os graus de ensino. A petição foi assinada por 4886 professores. Apesar do convite dirigido a todos os departamentos de Geografia e ao IGOT, que então já existia, apenas o IGOT tomou formalmente posição a favor da Petição Pública Nacional, o que sublinho.

A petição foi discutida na Comissão Parlamentar de Educação, Ciência e Cultura, a 4 de janeiro de 2012, e subiu a Plenário da Assembleia da República no dia 15 de março desse ano. Todas os grupos parlamentares manifestaram apoio ou disponibilidade para apoiar a mudança reclamada na Petição Pública Nacional. Contudo, ficou claro que não se iria alterar pontualmente o regime de formação inicial de professores. Essa alteração seria realizada no âmbito de uma revisão geral do regime jurídico da formação de professores. A Associação de Professores de História exerceu um importante papel de lobbying no Ministério da Educação, em favor da mudança da legislação, o que quero notar. Em 2014, foi aprovado um novo regime jurídico da formação inicial de professores, com a conquistada criação do Mestrado em Ensino de Geografia e do Mestrado em Ensino de História.

Duas ou três notas. Fiquei impressionado com a dificuldade de alguns professores de Geografia e de História assinarem, na sua escola, a Petição Pública a favor da autonomia da formação de professores do seu grupo disciplinar, mesmo se concordavam. Tinham medo de tomar posição, o que me surpreendeu. Alguns colegas só subscreveram a Petição Pública quando, na fase final (e como previsto logo que lançámos a Petição), a disponibilizámos online.

Entre as dificuldades, contaram-se outras pequenas oposições. Por exemplo, uma colega de outra Faculdade questionou o Diretor do Instituto de Educação por eu ser o coordenador de Geografia do Mestrado em Ensino de História e Geografia, quando pretendia acabar com o mesmo. Expliquei várias vezes aos estudantes que, estando contra o modelo de formação inicial, não estava contra qualquer estudante, naturalmente.

Sou docente do atual Mestrado em Ensino de Geografia. Quando encontro estudantes menos empenhados, como sempre sucede, não lhes digo nada, mas penso comigo próprio que estão a frequentar um curso que existe porque foi conquistado com muito esforço por muitos professores. Enfim, interrogo-me, às vezes, como estaria a Geografia (e a História) no ensino básico e secundário e na própria universidade, se não tivesse existido a Petição Pública Nacional “Por uma formação autónoma dos professores de Geografia e História. Por uma formação inicial de qualidade”. Nunca o saberemos.

P3. As Jornadas IGOT dos Professores de Geografia e o Dia Aberto da Geografia são eventos formativos promovidos pelo IGOT-ULisboa, que surgiram por sua iniciativa. Qual considera ser o impacto deste tipo de iniciativas no ensino de Geografia nacional?

Em 2010, ajudei a criar o Centro de Formação de Professores do IGOT. Foram então organizadas algumas ações de formação que, estranhamente, não funcionaram por falta de inscritos (antes, ainda na Faculdade de Letras, tinham sido oferecidas ações de formação de Geografia, bem-sucedidas). Em 2013, a professora Lucinda convidou-me para coordenador do Centro. Por acaso, um meu irmão era também diretor de um centro de formação; em conjunto com outros centros, organizavam uma ação de formação concentrada em poucos dias, no final do ano letivo, com diversos intervenientes, que estava a ser um sucesso. Adaptando o modelo ao IGOT, sugeri a criação das Jornadas IGOT dos Professores de Geografia, o que a professora Lucinda Fonseca apoiou.

É o maior evento nacional de formação de professores deste grupo especificamente organizado para este efeito. Constitui um espaço único em que se dão a conhecer os investigadores do CEG/IGOT (mas temos tido colegas de outras instituições) e a investigação que estão a desenvolver. Os professores de Geografia que frequentam as jornadas são os mais dinâmicos, os que estão disponíveis a deslocarem-se de mais longe para frequentar a formação, os que se atrevem a fazer relatórios sobre muitos conteúdos de que ouviram falar pela primeira vez. Com a pandemia, os participantes alargaram-se a todo o espaço português e muitos desses professores querem continuar a participar nas ações de formação. Com o regresso do ensino presencial, este é um problema por resolver.

O impacto das Jornadas IGOT dos Professores de Geografia é enorme, pela atualização científica que promove – um comentário habitual às jornadas, por parte de quem as frequenta, é o de que “é onde se aprende mesmo”. Uma colega afirmava-me há uma semana que a sua formação nas Jornadas do IGOT tinha contribuído para preparar melhor os seus alunos para o exame nacional de Geografia da 1.ª fase (bem como a participação dos alunos no Projeto Nós Propomos!).

As Jornadas são também um espaço de convívio entre os colegas de Geografia, o que constitui uma dimensão muito importante. São igualmente um espaço de encontro e de diálogo entre docentes e investigadores do IGOT e os seus colegas do básico e secundário, o que é igualmente relevante. Por último, não menos importante, as jornadas constituem um veículo extraordinário de aproximação e de divulgação do IGOT junto dos colegas do ensino básico e secundário e, através deles, também dos públicos escolares portugueses. Não sei se no IGOT temos completa consciência do impacto das jornadas. Imaginemos que a maioria dos professores mais dinâmicos que formamos e muitos outros fossem fazer a sua formação contínua noutra instituição de ensino superior.

Sobre o Dia Aberto da Geografia que, desde 2015, é dinamizado fundamentalmente pela minha colega professora Helena Esteves. Em 2002, a Associação de Professores de Geografia lançou a Quinzena da Geografia, que depois se extinguiu rapidamente. Durante quinze dias, escolas, instituições de ensino superior e outras entidades dinamizavam eventos relacionados com a Geografia. Uma ideia interessante. Fiquei a pensar o que poderia ser feito pelo então Departamento de Geografia da Faculdade de Letras.

Em 1999, na Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Leiria, descobri o funcionamento do “Dia Aberto”, hoje mais generalizado, em que alunos do secundário visitavam a instituição, numa perspetiva de captação de futuros alunos. Pareceu-me ser uma iniciativa adequada à Quinzena, trazer alunos ao Departamento de Geografia e à Universidade.

Ainda pensei trazer os alunos para as aulas que estavam a decorrer, mas eram relativamente poucas para os alunos que teríamos e imaginei que alguns colegas docentes não estivessem muito disponíveis. Apontei para o modelo atual, de sessões criadas especificamente para os alunos e professores que nos visitavam, se possível com alguma dimensão mais lúdica.

Fundamentalmente, constitui um instrumento de divulgação do IGOT junto dos públicos escolares e, claro, reforça também a importante ligação às escolas. Noto que a Faculdade de Letras, perante o sucesso do Dia Aberto do IGOT, que enchia a Faculdade de alunos, criou o Dia Aberto da Faculdade e que outras instituições de Geografia também o fizeram, mas acabaram por não dar continuidade à iniciativa, também pela dificuldade em mobilizarem alunos e professores, o que o IGOT consegue fazer.

Uma última nota: o Dia Aberto, as Jornadas IGOT, o Projeto Nós Propomos!, a própria formação inicial de professores de Geografia que o IGOT assegura e iniciativas como conferências e exposições que o IGOT e o CEG promovem, através das respetivas direções, constituem instrumentos poderosos de ligação ao ensino básico e secundário.

P4. Pode contar-nos um pouco sobre a sua trajetória pessoal e o que o levou a escolher a Geografia como área de estudo e profissão?

Eu decidi ser professor aos 12 anos. Gostava da escola, gostava de aprender, gostava dos professores. Talvez seja a história do menino de uma aldeia, para quem as pessoas mais interessantes com que contactava eram os professores.

Depois, era menino de uma aldeia sem verdadeiramente o ser. Os meus pais não estavam muito ligados à agricultura, ninguém na família é caçador e, pior, não tenho grande interesse por futebol. Enfim, talvez seja justo referir a minha mãe que, apesar de ter só a 4.ª classe, tinha uma grande curiosidade intelectual, que transmitia aos filhos. Sem a “vida de rua” e de café habitual numa aldeia, passava muito tempo em casa, onde recebíamos todos os dias o jornal diário, onde víamos a televisão (fomos a primeira casa particular da aldeia a ter televisão), onde contemplávamos e discutíamos o mundo.

No equivalente ao 7.º ano, na disciplina de Geografia, que então comecei a ter, o professor queria que trouxéssemos coisas várias para o caderno diário: mapas, notícias… Hoje, diríamos, construir um portefólio. No 8.º ano, mudou o professor de Geografia (nenhum deles era formado em Geografia, tal não existia, bem entendido). A professora ensinava-nos pelo manual, claro, e nos testes copiava as perguntas das coleções de testes, então muito em voga. Eram perguntas indiretas, bem construídas, em que tínhamos que relacionar os aspetos físicos e humanos que tínhamos aprendido antes. A disciplina de Geografia não era uma disciplina de memorização, também o era, mas era, sobretudo, uma disciplina de inter-relação das aprendizagens. Eu era bem-sucedido nesse relacionamento e gostava muito de Geografia. É fácil perceber, com todo este contexto pessoal e familiar, porque me interessava por Geografia.

Vou para o Liceu, no atual ensino secundário. No 10.º ano, em 1974/75, Geografia correu mal: tive vários professores que pouco percebiam de Geografia. Mas no 11.º ano tive uma boa professora, percebi que era formada em Geografia, imaginem! Decidi, em definitivo, ir para o curso de Geografia. Não sei como explicar a um jovem de hoje como, em Torres Vedras, a 50 km de Lisboa, foi difícil saber que curso de Geografia existia, onde funcionava, que disciplinas eram necessárias para ingressar no mesmo. Mas lá soube que para ingressar no curso de Geografia, em 1977/78, eram precisas Geografia e Ciências da Natureza. Apesar de ter o curso liceal completo, tive de fazer esta última disciplina como aluno externo, no ano do Serviço Cívico Estudantil (onde me inscrevi, mas que já não funcionou). Ter de me inscrever condicionalmente nos exames de acesso à universidade, quando tinha o secundário completo e com boas notas, custou-me então muito. Mas passei…

P5. O que diria a um/a jovem que está a considerar seguir a área da Geografia ou Planeamento e Gestão do Território no ensino superior?

É uma área muito interessante, que nos desafia a uma olhar integrador de aspetos físicos e humanos, quando a necessidade dessa integração é cada vez mais urgente. É olhar o futuro através do presente. Vão em frente.

P6. Na sua opinião, qual a contribuição da Geografia e do Ordenamento do Território para a compreensão do mundo atual?

Fornecem-nos instrumentos de leitura e compreensão do mundo, da escala local à global. Mas eu gostaria de sublinhar outra dimensão. O geógrafo e/ou especialista em ordenamento do território tem o compromisso, ético e profissional, de ajudar a construir um mundo mais harmonioso, com satisfação dos direitos fundamentais de cada pessoa e de cada comunidade. E é esse compromisso que deve presidir ao geógrafo e técnico de ordenamento do território, encontre-se ele no ensino e formação ou no ordenamento do território, propriamente dito.