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Entrevista a Ana Ramos Pereira, coordenadora do projeto How we see the Ocean: an interactive experience

Mar oceano natureza

Entrevista a Ana Ramos Pereira, coordenadora do projeto How we see the Ocean: an interactive experience

Ana Ramos Pereira é geógrafa e professora catedrática do IGOT-ULisboa, tendo se aposentado recentemente das suas atividades de docência. É investigadora do Centro de Estudos Geográficos, onde integra o ZEPHYRUS, o grupo de Investigação em Alterações Climáticas e Sistemas Ambientais.

Atualmente, é coordenadora do projeto “How we see the Ocean: an interactive experience, que visa avaliar a literacia do Oceano e litoral através da perceção de indivíduos de várias gerações, tendo em conta a educação formal e não formal. É financiado pelo Programa do Crescimento Azul da EEA Grants, teve início dia 18 de maio e terá a duração de um ano.

P1: Professora, fale-nos um pouco do projeto How we see the Ocean: an interactive experience. Qual o seu maior desafio?

As mudanças climáticas acentuaram o desafio criado pela subida do nível do mar que conflitua com a sua ocupação antropogénica  costeira. Mas o mar é também a sede de recursos, não só marinhos como marítimos, pelas atividades económicas que proporcionam, como as infraestruturas dos desportes de desliza (surf, por exemplo) e de lazer. É este conflito entre recursos e riscos que a interação Oceano-Terra geram. Pretende-se avaliar a perceção que os morados litorais têm desses desafios, quer através da educação formal quer da educação não formal. Pretende-se fazer essa avaliação com base na análise de inquéritos remotos.

P2: A área escolhida para desenvolver o projeto foi Peniche, que tem um conhecido porto de pesca e é uma zona de turismo de praia e surf. De que forma o projeto vai envolver a comunidade local e contribuir para melhorar a Literacia do Oceano?

Peniche é conhecida como a capital do surf. A Escola Secundária de Peniche é uma Escola Azul. Esta prontamente acedeu a colaborar connosco. Selecionámos várias turmas do 10º ao 12º anos, que responderão ao inquérito, permitindo avaliar a literacia oceânica e litoral formal. A restante comunidade será constituída pelos pais dos alunos e os avós, muitos dos quais desenvolveram a sua atividade direta ou indiretamente no mar. Esta componente do inquérito, também remoto, visa estimar a literacia não formal, mas sobretudo empírica.

P3: Devido à poluição e impacto das alterações climáticas, os Oceanos têm “chamado” por nós. Acha que as pessoas começam a ganhar consciência e a passar das palavras à ação?

Essa é a pergunta a que o projeto pretende dar um contributo. Após o tratamento das respostas ao inquérito, a equipa do projeto proporá diversas ações na Escola Azul, de forma a ultrapassar algumas dúvidas criadas na educação formal. Pretendemos contribuir com workshops temáticos e um workshop final, que pensamos poder contribuir para criar cidadãos mais informados e ativos.

P4: Pode contar-nos um pouco sobre a sua trajetória pessoal e o que a levou a escolher a Geografia como área de estudo e profissão?

A Geografia surgiu ainda no liceu, no atual 10º Ano, por influência de uma excelente professora. Já na Faculdade sempre preferi a Geografia Física. A escolha da área de estudo do doutoramento (que extravasa a Costa Vicentina) deveu-se ao meu gosto pela costa e pelo mar. Nunca mais abandonei esta área de interface, cujos desafios da dinâmica, muito complexa, às vezes perigosa (vejam-se os tsunamis), associada a um ordenamento (des) que via crescer à medida que ia fazendo o trabalho de campo, conduziu-me também ao estudo da legislação ambiental e à sua aplicação. Mas a situação atual do litoral, que tenho estudado, é o resultado de uma evolução milenar que sempre me interessou. Saliento o projeto FMI 5000 – Fluvio-marine interactions over the last 5000 years, com resultados muito interessantes, em especial na Estremadura portuguesa, Esta perspetiva evolutiva abriu portas a pontes com outras geociências (no referido projeto e em dois projetos na lezíria do Tejo) e também com a arqueologia, que me levou a espaços tão distantes como Foz Côa ou Loulé.

P5: O que diria a um(a) jovem que está a considerar seguir a área da Geografia ou Planeamento e Gestão do Território no ensino superior?

Que a Geografia é uma ciência que abre muitos caminhos de estudo do território. Só conhecendo o território, as suas componentes físicas e humanas, se pode propor um ordenamento amigo do ambiente. Venham, a Geografia permite investigação e aplicação. E não há desemprego.

P6: Na sua opinião, qual a contribuição da Geografia e do Planeamento e Ordenamento do Território para a compreensão do mundo atual?

Onde se localiza; porque está nessa posição; como se relaciona com as circundantes; como se formou; como evolui são questões que a Geografia, em geral, e todos os ramos da Geografia devem responder. Só com o conhecimento dessa diversidade dos territórios, sua localização espacial e evolução temporal se pode compreender os desafios do mundo atual.